18 de abril de 2024

Onde álcool em gel não chega, é com etanol e doação de sabão que favela se protege

Além da falta de recursos, a informação que chega às pessoas carentes é desencontrada

Daiany Albuquerque, Súzan Benites

A principal recomendação dos profissionais da saúde na prevenção e combate ao Covid-19, o novo coronavírus, é reforçar a higiene. Na favela, o medo também chega, mas na hora de colocar em prática as orientações faltam recursos, produtos e muitas vezes a informação também chega truncada.

Na favela da Terra Vermelha, no Noroeste, com informações um pouco desencontradas, as pessoas tentam se proteger como podem, já que álcool em gel é caro e ás vezes falta o básico, como sabonete. O jeito é improvisar, como a serviços gerais Claudinéia da Costa, 37 anos, mãe de três filhos, um deles com bronquite. 

“Meu marido trouxe álcool de posto, a gente misturou com um pouco de água e sabonete líquido que ganhamos e estamos usando isso, tanto para limpar os móveis quanto para passar nas mãos. Eu tenho bastante medo, porque minha filha tem bronquite, não estou deixando nenhum deles sair para brincar na rua, brincar só dentro de casa”, explicou Claudinéia. 

Nem mesmo os adultos estão saindo, já que o marido trabalha na construção civil e ela foi dispensada do trabalho durante esse período incerto. “O pouco que a gente tinha de dinheiro temos que economizar, não dá pra ficar comprando álcool em gel por R$ 100, esse dinheiro a gente tem que comprar comida porque não sabemos até quando vai essa situação”, disse. 

Os pequenos prazeres também foram afetados, como o tereré com os vizinhos e as visitas. No local, cada família fica no seu canto, tentando se proteger como pode. “Dobramos os cuidados que a gente tinha, de lavar as mãos. Álcool aqui é impossível, mas recebemos uma doação do ex-presidente do bairro de sabonete líquido, é o que tem ajudado a gente”, contou a dona de casa Claudenir da Silva, 44 anos, que está desempregada. 

Na casa de Claudenir moram 11 pessoas, são sete filhos, dois netos, além dela e do ex-marido e ninguém está trabalhando por conta da proibição de funcionamento de comércio e construção civil. “O kit merenda tem ajudado bastante, mas o alimento é complicado, porque fica todo mundo em casa, é bastante gente e vai muita comida”, ressaltou a dona de casa. 

INFORMAÇÕES DESENCONTRADAS

Alguns moradores se informam sobre a situação da cidade pelos jornais e telejornais, mas é das redes sociais e pelo boca a boca que vem o maior perigo nesse período de pandemia: as notícias falsas. “Me falaram que dá febre, dor de cabeça, no corpo, vômito, disenteria e é tão forte que você só aguenta por dois dias, depois você morre, é pior do que a dengue”, disse a catadora de reciclável Benedita Luzia Bispo de Senna, de 59 anos. 

A catadora não parou de trabalhar por conta da pandemia, e diz que tem juntado os materiais recicláveis em casa, apesar de as usinas não estarem em funcionamento e não ter para quem vender o que recolhe. Morando sozinha, ela explica que são os vizinhos que a informam sobre a situação da doença, porque sua televisão não funciona direito.

Já Claudinéia disse que está tomando todos os dias água com limão, porque a pastora de sua igreja disse que aumenta a imunidade. “Ela falou que quando está muito quente a gente não pega, porque o vírus não gosta do sol, mas quando está fresquinho é perigoso”.

GRUPO ARRECADA SABONETES

Para ajudar pessoas como as da favela Terra Vermelha, um grupo vai realizar uma arrecadação pela cidade. Nesta sexta-feira (27), o grupo realizará arrecadação de sabonetes, sabão e detergente para a população carente de Campo Grande. Caminhonetes e carros de som passarão em diversos bairros da capital realizando a coleta dos produtos das 9h às 12h.

 “Vamos aos bairros com um carro de som na frente e uma caminhonete atrás. O carro vai pedir as doações e as pessoas podem deixar os sabonetes nas calçadas que a equipe, devidamente protegida com luvas e máscara, recolhe esse sabonete. Ou a própria pessoa coloca o produto dentro da caminhonete para que não haja contato”, explicou o empresário Ricardo Nantes.

O projeto Guardiões da Vida é composto por empresários, médicos, advogados, administradores e jornalistas que se uniram e formaram o projeto com o intuito de contribuir com ações sociais pontuais e estratégicas de prevenção à disseminação do Covid-19. 

O sabonete foi escolhido como item básico para ajudar no combate ao coronavírus, já que a principal prevenção é lavar as mãos. Para acomodar as doações o grupo conversou com a Defesa Civil e a Secretaria de Assistência Social para organizar a logística. Os materiais serão armazenados e separados em um galpão da secretaria e posteriormente distribuídos.

 “A ideia é que a gente atenda as solicitações, depois pretendemos arrecadar alimentos, por exemplo, para distribuir para as pessoas carentes. E vamos atendendo as demandas, se faltar cobertor, material de higiene, conforme a demanda”, explicou Nantes. 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.